Muitos vendedores chegam ao marketplace com a sensação e promessa de mercado de que “é fácil”: plataforma pronta, tráfego recorrente engajado, UX consolidado, logística eficiente e ferramentas de retail media integradas. A verdade é mais dura.
Tudo isso existe, mas vem acompanhado de custos reais que impactam diretamente o P&L. O marketplace é, sem dúvida, um canal poderoso. Mas exige leitura financeira precisa, disciplina operacional e visão integrada entre marketing, pricing e supply.
Entenda as taxas do canal: visibilidade total é prioridade
Cada marketplace tem suas próprias regras. Comissões sobre vendas, taxas fixas por pedido ou unidade, custos de frete, e cobranças adicionais de serviços — como mídia, armazenagem e aging (em modelos de fulfillment) e até antecipações financeiras — variam por categoria e até por plano. Essas estruturas mudam com frequência.
Na prática, o primeiro passo é construir uma tabela de rentabilidade por SKU, somando: comissão, taxa fixa, custo logístico, investimento em mídia e provisão de devoluções. Em muitos casos, a diferença entre lucro e prejuízo está em dominar cada uma destas linhas e se atentar com as dinâmicas do mercado.
Comissão sobre produto vs. produto + frete
Essa é uma das armadilhas mais comuns.
Em produtos de baixo ticket, uma comissão calculada sobre o subtotal (produto + frete) pode corroer toda a margem operacional. A recomendação é simples: entenda a regra do canal, e simule o cenário para cada SKU. Normalmente a cobrança de produto + frete é feita quando a entrega é de responsabilidade do vendedor, isso gera uma complexidade a mais de pilotar bem sua estratégia de frete de forma a não incrementar demais o comissionamento cobrado no canal.
Essa análise evita que descontos automáticos ou ajustes de frete comprometam a operação.
Taxas fixas e ticket baixo: o risco da venda “barata demais”
Alguns canais cobram taxas fixas por pedido ou unidade.
Em produtos de baixo valor, isso pode representar 10%, 20% ou até 30% do faturamento. A saída prática é criar kits ou bundles, aumentando o ticket médio e diluindo o custo fixo por unidade.
No entanto, fique atento: pode ser que a sua maior saída ocorra em produtos unitários. Isso pode ser explicado por vários fatores, produtos de conveniência e composição de cesta são tradicionalmente comprados em menores quantidades, e tem uma sinergia natural com o ambiente de marketplace. Tenha em mente a margem esperada e entenda bem seu produto e o hábito de consumo atrelado.
Frete subsidiado: o golpe invisível na margem
Frete “grátis” não existe.
Muitos marketplaces exigem que o vendedor subsidie o valor do frete acima de determinados tickets, ou absorva o custo de cupons promocionais. Esses subsídios podem custar entre R$10 e R$40 por pedido, destruindo margens em categorias sensíveis.
A recomendação é modelar o impacto do frete em cada SKU, aplicar preço mínimo que cubra comissão + frete e usar promoções subsidiadas apenas quando houver objetivo estratégico claro (aquisição, recompra ou giro de estoque).
Devoluções: o custo oculto mais subestimado
Taxas de devolução elevadas corroem a margem em múltiplas frentes: logística reversa, reembolsos, inspeção, perda de produto e reprocessamento de estoque.
O controle deve ser granular: taxa de devolução por SKU, motivo de retorno e custo médio por devolução.
Os motivos mais comuns (erro de descrição, tamanho incorreto, avarias) podem ser mitigados com descrições detalhadas, tabelas de medidas, fotos reais e embalagens reforçadas.
Fulfillment: alavanca de venda com risco operacional
O fulfillment impulsiona vendas: buybox, entrega rápida, reputação. Mas cobra seu preço: inbound/outbound, aging e storage fees.
Sem gestão fina de giro, o vendedor paga por inventário parado e, em casos extremos, enfrenta descarte. A prática recomendada é migrar apenas SKUs de alto giro para o full e manter os demais na expedição própria, com integração eficiente e SLAs rigorosos.
Mais que isso, operar no full exige uma adaptação da sua operação. O mais direto é que você passa a operar com pedidos maiores em espaços mais curtos de tempo. Agora é necessário preparar uma remessa com centenas ou milhares de peças dentro de dezenas de volumes, acordado com uma data de agendamento deste envio. Em teoria otimizações logísticas são feitas ao se trabalhar com um dropsize maior, mas se sua operação não possui essa maturidade e também precisa preparar estes envios do full ao mesmo tempo que atende ao SLA apertado dos pedidos normais fora do fulfillment, pode ser que você sofra com ocorrências.
Reputação e SLA: custo indireto, impacto direto
A reputação no marketplace é um ativo financeiro.
Atrasos, cancelamentos e avaliações negativas reduzem a visibilidade, aumentam custos e exigem mais investimento em mídia para compensar. O controle de OTD, OTS, cancelamentos e reclamações deve ser rotina e não reação. Penalidades por descumprimento de SLA são automáticas e, muitas vezes, cumulativas.
Margens e campanhas: previsibilidade é sobrevivência
Promoções sem planejamento corroem a rentabilidade. Antes de participar de qualquer campanha, defina:
- Quais SKUs têm margem para desconto;
 - Quais funcionam como loss leaders para aquisição;
 - E quais dependem de rebate negociado com o canal.
 
Negocie subsídios e exposição com o marketplace, sempre com base em retorno incremental mensurável.
Mídia (Retail Ads): medir é mais do que olhar o ROAS
Investir em ads é inevitável, mas sem controle do ACOS (Advertising Cost of Sales), o investimento vira despesa. Defina limites de ACOS e metas de ROAS por SKU e integre esses custos à planilha de rentabilidade. O que não fecha no P&L, não escala.
Composição de cesta e experiência de loja
Aumentar ticket médio e fidelização passa por estratégias de composição de cesta. Use mecânicas de combo e descontos progressivos para girar SKUs de cauda longa a partir de produtos de alto giro. Explore também as páginas de loja dentro do marketplace, um espaço de branding, não apenas de catálogo. Uma loja organizada e visualmente coerente aumenta conversão, tempo de navegação e percepção de marca.
Checklist de rentabilidade
- Documentar todas as taxas por canal (comissão, frete, taxa fixa, storage);
 - Calcular rentabilidade por SKU (preço líquido – custos – mídia – devoluções);
 - Criar kits e bundles para diluir custos fixos;
 - Segmentar SKUs entre Full e expedição própria com base em giro e margem;
 - Controlar devoluções e atuar nas causas;
 - Definir metas de ACOS e ROAS por linha;
 - Negociar rebates e subsídios com base em metas de volume;
 - Automatizar alertas de aging e reposição no CD do marketplace.
 
Conclusão
O marketplace é um canal de expansão e não de improviso. Rentabilidade não é resultado do volume, mas da precisão. Cada taxa, ponto percentual e real investido precisa estar dentro de uma lógica de P&L clara e integrada. Na whAInot, tratamos o marketplace como ciência operacional: marketing, logística e dados trabalhando sob o mesmo framework. Rentabilidade é disciplina e quem domina o detalhe, domina o canal.
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Por Guilherme Setani
Head de Marketplace da whAInot





